– Não guardo do período anterior aos 5/6 anos nenhuma
recordação ou memória visual que me tivesse marcado profundamente ao ponto de agora
ser capaz de a explicitar.
– Apenas recordo uma fotografia a preto e branco, por ser o
único registo físico de infância, onde teria talvez 2 anos. Era a primeira
comunhão, salvo erro, do meu irmão Tóju. Estávamos todos (os meus pais e os
meus quatro irmãos mais velhos) em frente da Igreja de Esporões, ainda com andaimes,
presumo numa fase terminal de construção.
– Recordo também uma outra fotografia tirada com a minha irmã
Paula. Teria talvez 5/6 anos. Tenho uma vaga ideia, talvez mais construída
pelos comentários que os meus pais fazem acerca da mesma, da relutância da
minha irmã aceitar tirar essa fotografia e isso está bem representado na
expressão facial de birra e de zanga que se consegue observar[1].
– Por volta dos dois anos os meus pais construíram uma casa
nova. Fizeram, pelo que sei, com um empréstimo, na altura, da recém criada
Caixa de Previdência. Acho que ficou orçamentada em 115 contos (moeda antiga).
Segundo relato do meu pai, havia um segundo projecto orçamentado para cento e
muitos contos (talvez 150/160), com óbvias melhorias nas condições da
habitação, que foi declinado por considerar muito caro, pois já pensava que
seria muito difícil cumprir com as exigências do projecto aprovado.
– Não me recordo da casa anterior, embora fosse muito perto da
nova casa. Essa casa antiga era alugada. Nunca perguntei se foi aquela a
primeira casa de casados dos meus pais!
– Não guardo recordações dessa primeira casa onde vivi até aos
dois primeiros anos. Contudo, a minha mãe conta dois episódios que a marcaram
muito e que me envolveram directamente. Primeiro, uma queda numas escadas
quando estava a andar de triciclo num pátio a céu aberto que ficava no acesso à
porta de entrada da casa. Diz a minha mãe que contei as escadas completamente
“embrulhado” no triciclo. Apanhou um susto enorme e ficou muito surpreendida
por eu não ter sequer um arranhão. Costumava haver uma protecção de madeira no
início dessas escadas, mas naquele dia, por qualquer motivo, tinha sido
retirada do lugar. Segundo, um enorme tremor de terra durante uma noite (talvez
em 1969). Todos saíram de casa a correr. Na confusão fui “esquecido” no verso.
A minha mãe diz que voltou para trás a correr para me apanhar.
[1] Tive, neste momento, um
forte impulso de procurar as minhas poucas referências fotográficas de infância
e adolescência que guardo. Ainda que tentado, decidi não fazer e continuar a
escrever o texto só com a ajuda da memória.