A propósito do livro de Juan Francisco Martín Seco, "Contra el €uro", publicado há uns meses atrás, encontrei uma síntese e reflexão sobre o mesmo. Vale a pena ler. Aqui => "Contra el €uro".
Para memória futura, caso o texto se perca, aqui fica o original, com salvaguarda da autoria (João Rodrigues, em Ladrões de Bicicletas, a 19-11-2013).
Este livro, diz-nos Juan Francisco Martín Seco na introdução, foi
escrito com “raiva”, dada a destruição evitável que está sendo gerada na
economia, no Estado social e na democracia espanholas. Felizmente, a
“raiva” foi posta ao serviço de uma argumentação clara e racional. As
grandes linhas do argumento contra o Euro são conhecidas e o livro
apresenta-as claramente, tendo a vantagem adicional de nos mostrar como a
atitude das elites económicas e políticas espanholas em relação ao Euro
e à integração neoliberal que lhe esteve indelevelmente associada foi
tão semelhante à das castas portuguesas: o mesmo egoísmo, a mesma
miopia, a mesma arrogância, os mesmos complexos do bom aluno e a mesma
atitude moralista imoral depois da crise rebentar – vivestes acima das
possibilidades, agora é altura de pagar.
As causas estruturais da dívida externa elevada são claramente
identificadas: o Euro, uma moeda sem Estado, desligado das finanças
públicas, e que aumentou as assimetrias entre os Estados realmente
existentes, não serve as economias europeias menos desenvolvidas e agora
sem meios decentes para gerir a sua inserção internacional. A
acumulação de défices da balança corrente foi um sintoma da perda de
competitividade, de uma moeda demasiado forte. Agora, os défices são
provisoriamente debelados pelo destrutivo e injusto, até porque só
recai sobre os assalariados, mecanismo da desvalorização interna. Este
deixa um lastro institucional, social e laboral, pesado, tal como a
construção do euro, por via essencialmente da liberalização financeira,
já o tinha feito. O trabalho de neoliberalização ficaria completo.
Parte do livro é constituída por um impressionante corpo de autocitações
de escritos do autor, fundamentalmente dos anos noventa: um bem vos
avisei sem falsas modéstias. Não se trata de mais um oráculo, mas sim de
ter tido a capacidade de identificar, com a ajuda de história
racionalizada, por exemplo das desvalorizações cambiais quando a coisa
apertava, mecanismos e padrões emergentes, mas ignorados pela sabedoria
convencional euro-contente.
Seco, um economista entre a alta administração pública e a academia e
que rompeu com o PSOE na década de noventa, insiste que a União Europeia
saída de Maastricht e confirmada nos Tratados subsequentes, baseada
numa moeda disfuncional e numa lógica de expansão sem fim das forças do
mercado capitalista, não é união, já que reforça os mecanismos de
polarização e não é europeia, já que destrói o Estados sociais e as
democracias. Os mecanismos nesta altura são muito claros: sem moeda
própria e controlada pelos poderes públicos democráticos, sem algum tipo
de controlo de capitais, não existe, nem existirá, o grau soberania que
é condição necessária para que as constituições democráticas e sociais
anti-fascistas, ainda tão temidas pelo capital financeiro, e por
potenciais boas razões, possam ser cumpridas nas suas dimensões
essenciais. Um bom contributo para que as forças sociais e políticas que
se dizem progressistas se possam ver livres, também do outro lado da
fronteira, das custosas ilusões do Euro.