Um post dedicado à minha filha mais velha Rita. Nestes dias que passam estou cada vez menos católico. Zango-me mesmo; 'passo-me dos carretos'. Mas vivo num conflito (entre muitos outros). A Rita tem a sua educação religiosa por vontade expressa da mãe e anuência tácita da minha parte.
Há tempos a Rita andava com um papel na mão (meia folha A4). A tarefa era ‘decorar’ uns versos cujo título dizia assim: “A última prenda do Menino Jesus”.
Tanto para dizer… Interessa-me a compreensão/interpretação do texto; a fluência, o ritmo, a expressividade da leitura; a destreza mental do soletrar ritmado das palavras; os valores que se podem explicar, trabalhar, partilhar.
Numa época em que tudo têm e pouco valorizam; em tempos que eu próprio tenho (imensa) dificuldade em focalizar-me onde realmente devia-me interessar… Upps, acho que tropecei! É melhor não olhar para trás, não sou capaz deste exercício de com as palavras dizer porque fico prostrado... Talvez porque não encontro respostas; talvez porque não as quero assumir... Como gostaria que tudo fosse simples, claro, transparente.
Eis os versos:
O Menino Jesus, já cansadinho
De tanto andar por cima dos telhados,
Descalçou os sapatos
– Eram novos – e pô-los no caminho.
Nisto sentiu ruído ali pertinho…
Trepou a chaminé com mil cuidados,
E que viu? – Dois tamancos esburacados
E, ao pé deles, rezando, um petizinho.
O Menino Jesus que faz então?
Sem ter nenhum brinquedo ali à mão,
Desses que tanto agradam aos garotos,
Troca os sapatos pelos do petiz,
E depois vai ao Céu mostrar, feliz,
À virgem Mãe os sapatinhos rotos…
(Adolfo Simões Müller)
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